Meu galo índio

Era para ser um daqueles domingos normais para um garoto de 11 anos, que tinha como prazer maior jogar bola no campinho de terra. Depois de tomar café, meu pai anunciou que iria à feira, e a minha mãe sugeriu que eu fosse com ele. Não entendi muito bem, pois todos os domingos eu acompanhava o meu pai na feira. Me despedi do meu cachorro Cacique e do meu galo índio, e lá fomos nós dois para a feira.

Uma parada aqui ou ali para cumprimentar algum amigo, finalmente chegamos à feira, depois de caminhar por uns 20 minutos. Para o meu pai ir a feira era um evento, pois além das compras havia muita conversa sobre temas variados, afinal todos eram conhecidos, desde os feirantes até os que costumavam frequentar a feira dominical.

Na feira era possível comprar de tudo, desde roupas até produtos a granel, como cereais, grãos, legumes, frutas, óleo de cozinha, queijos e frios, e muitos outros produtos. A minha barraca predileta era a do seu Augusto bolacheiro, que vendia biscoitos e doces a granel, que vinham acondicionados em latas grandes e coloridas. Os doces eram bem distribuídos na banca, o que fazia a molecada enlouquecer.

Meu pai me comprou uma generosa porção de doces, mas com a promessa que eu comeria somente após o almoço. A partir deste momento o meu único objetivo era ir para casa.

Depois das compras concluídas já próximo do horário de almoço, voltamos para casa, com duas sacolas pesadas. Geralmente a minha mãe nos esperava com uma deliciosa macarronada, e naquele domingo não foi diferente. Além da macarronada minha mãe havia preparado um frango ensopado, e qual foi a minha surpresa? Era o meu galo índio que estava na panela.

Surtei!

Como pode a minha mãe fazer isso? Era o meu galo de estimação, meu amigo e defensor da casa junto com o Cacique, meu cão. Esse era o problema, domei o galo para ser bravo. Desde que era pintinho, eu o incitava a briga com um espelho e ele foi se tornando violento e atacava as pessoas que passavam em frente de casa. Foram inúmeras as reclamações de transeuntes que tiveram que correr do galo, por isso, a minha mãe resolveu a situação mandando o bicho para a panela.

Chorei o domingo todo. Sequer fui jogar bola no campinho de terra preta que eu adorava. Não comi nem falei com a minha mãe por dois dias e fiquei sem comer carne de frango por muito tempo. Com o passar dos dias arrefeci e voltei ao normal, mas nunca esqueci do meu galo índio. Apesar de magoado, não senti raiva da minha mãe, nem por um segundo. Afinal foi ela que me ensinou a nunca sentir raiva de ninguém.

Um comentário em “Meu galo índio

  1. Lembrei da minha infância, onde aconteceu algo parecido. Na época tínhamos duas galinhas que chamávamos de Amarelinha, uma de nome branquinha, o galo Galizé e por fim o galo Garibaldi.

    Um dia fomos fazer um piquenique e minha mãe fez um ensopado com nosso amigo galo Garibaldi. Eu e meus irmãos ficamos muito tristes e claro que não comemos o frango.

    Obrigada por compartilhar a crônica e fazer me lembrar da minha infância!!!

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