Não sei se escolhíamos, ou era o mais esperto que se auto elegia o mestre da brincadeira, e logo se colocava no centro da roda de moleques.
O mestre, então, iniciava dizendo: Boca de forno?
Todos nós respondíamos: Forno!
Mestre: Tira bolo?
Todos: Bolo!
Mestre: Maracujá?
Todos: Já!
Mestre: Seu rei mandou perguntar!
Todos: O quê?
Mestre: Se fazem tudo o que ele mandar?
Todos: Tudo!
Mestre: E quem não fizer?
Todos: Ganha bolo!
Seu rei mandou dizer para atirar pedras no telhado da dona Helena, dizia o mestre.
A molecada saia em disparada rumo à casa da dona Helena – que talvez por ser a maior fofoqueira do bairro, era sempre lembrada pelos mestres – para cumprir a tarefa e voltar o mais rápido possível, pois o último a voltar levava bolo.
Quando o ultimo chegava, o mestre perguntava: que tipo de bolo darei no João Batista? Era incrível, mas ele era sempre o ultimo a chegar!
Aos gritos a molecada escolhia um tipo de castigo, que variava de “padre” com tapas leves nas mãos, até de mãe ou pai, com tapas mais e mais severas. Tinha também o bolo do capeta, que era o castigo mais forte de todos.
E assim passávamos horas cumprindo ordens dos “mestres” que se alternavam no poder, com ordens cada vez mais esquisitas. Atirávamos pedras nas janelas e telhados, tocávamos as campainhas das casas, roubávamos flores dos jardins, beijávamos postes, assustávamos as pessoas na rua. Também jogávamos bosta de cavalo nos quintais dos vizinhos mais ranzinzas, fazíamos xixi nos muros de suas casas, ou cumprimentava as pessoas na rua com caca de nariz nas mãos.
Geralmente brincávamos a noite, pois ficava mais difícil identificar os súditos arteiros, embora algumas vezes nos dávamos mal. Não foram poucas as situações onde levei uma coça da minha mãe por alguma reclamação de vizinhos.
Mas todos nós tivemos a oportunidade de reinar por um dia, mesmo que o reinado fosse no mundo da fantasia.
Ah… Boca de forno! Como bem escreveu Casimiro de Abreu em “Meus Oito Anos”:
Aí que saudades eu tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais… (Ou mais ouenos isso, rs rs rs).
Saudades de um tempo em que ficávamos livres e soltos (até a mãe chamar pra tomar banho e jantar), pela rua com os amigos, brincando sem parar. Brincadeiras que quase não se vê mais, brincadeiras bobas, inocentes, mas muito prazeirosas, que jamais esqueceremos.
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opa…
esse é um passado que acredito não voltar mais, essas brincadeiras de crianças na rua, pular corda, pique (dos mais variados tipos), amarelinha, pera uva ou maçã (minha preferida, pois sempre tínhamos um código para beijar a menina certa)…infelizmente foram trocadas pelos celulares e vídeo games…🤷🏻♂️
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