Nas ruas desta cidade de gente apressada, me sinto um anônimo que vaga pelo mundo, sem rosto e sem importância. Talvez não tenha importância nem mesmo para os meus vizinhos, apesar disso, sinto que o mundo me pertence.
É estranho ter um mundo e ser anônimo, mas a força do meu pensamento, em segundos, me leva para os mais longínquos e estranhos lugares. Sinto o meu corpo viajar, a brisa fresca na fronte, e olhos curiosos me vigiando. Habito muitos lugares ao mesmo tempo, e não me recordo de nenhum. Às vezes tenho que me esforçar para lembrar o caminho de volta para casa.
Gosto do anonimato, mas a solidão me maltrata. Seriam os anônimos mais solitários? Acho que sim porque o anônimo é um egoísta, que quer não ser percebido. Estranho, mas o anonimato só me é bom quando estou em meio a multidões.
Hoje me sinto triste na solidão da minha gelada cama. A chuva não dá trégua lá fora; a unidade, a escuridão, os raios e trovões, afundam ainda mais a minha alma anônima e sem graça. Sou isso, um ser sem a menor graça, anônimo, invisível.
Parece que até a minha alma é anônima.
No ínterim entre a vida e a morte, vou escrevendo a minha história sem escolher as condições, testando os limites da minha consciência e a minha incorrigível crença de que a humanidade é generosa e solidária.
Vida efêmera, insignificante, incolor, que passa rápido e não deixa rastro; essa é a sina do anônimo! Se morrer hoje não teria ninguém chorando no meu funeral, tão pouco brigando pelos meus livros. Não tenho herança, nem uma palavra deixo.