Como era divertido nadar em lagoas

Nos meus tempos de menino adorava nadar em lagoas, o que era uma preocupação constante para a minha mãe. Como cresci na zona norte de São Paulo, havia muitas lagoas a disposição para a molecada nadar, em especial nos dias mais quentes, e não raro se escutava que algum menino havia morrido afogado.

Eram poucos os clubes com piscina, para diminutos privilegiados que tinham o acesso, por isso, as lagoas eram a opção para a molecada mais pobre se refrescar. O problema é que essas lagoas ficavam em lugares afastados e em condições muito precárias, pois geralmente eram resultado de olarias abandonadas e com todo tipo de perigo debaixo da água.

Eu adorava nadar no “tancão”, uma lagoa grande e profunda, com águas menos turvas. A razão é porque ficava em uma pedreira, então a água, nos dias mais ensolarados, tinha um tom esverdeado. Como a água era mais fria, era menos frequentada, permitindo braçadas largas, sem se chocar com ninguém.

Tinha as lagoas da Arco-Flex. Na verdade, ficavam em um enorme terreno baldio em frente a antiga fábrica de sapatos Arco-Flex, formadas depois de escavações para retirada de argila por uma fábrica de cerâmica. Com o passar do tempo, esses buracos foram enchendo de água da chuva, dando origem a lagoas perigosas, devido a grande quantidade de armadilhas no fundo.

As lagoas da Securit ficavam na divisa entre Guarulhos e São Paulo, na borda da rodovia Fernão Dias. A lagoa foi assim batizada porque no local havia um outdoor da empresa Securit. Não gostava muito dessas lagoas porque tinham peixe, então sempre que alguém estivesse pescando a gente não podia nadar.

A gente chegava na lagoa, sem cerimônia arrancava toda a roupa, empilhava em um canto e pulava na água. A partir dali era uma festa, com muita risada e divertimento. Cada qual tinha o seu estilo, variando do machado sem cabo, passando pelos mestres em apneia, até os exibicionistas em mergulho, mas o que valia mesmo era a diversão.

Mas ao chegar em casa, a minha mãe batia os olhos e já sabia que eu tinha nadado em alguma lagoa e me dava uma coça, me fazendo prometer que não iria mais. Mas, sabe como é promessa de menino, dura até o primeiro amigo te convidar, e lá ia eu de novo. Me intrigava como a minha mãe sabia que eu tinha nadado na lagoa, sem me dar conta que voltava com barro no corpo, sementes de capim na orelha e o cabelo molhado.

Certo dia tramei o plano perfeito e fui com o meu amigo Claudinho nadar nas lagoas da Arco Flex, estava tudo perfeito, até a minha mãe aparecer com uma vara na mão e me fazer sair da lagoa e correr para casa, para não apanhar ali mesmo. Ocorre que a Dona Edméia, que era nossa vizinha, passou em frente a lagoa e me viu de dentro do ônibus e foi bater para a minha mãe. Além da surra, paguei o maior mico correndo pelado até em casa. Talvez tenha sido isso que me levou a nunca mais escapar para nadar em lagoas.

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