Meu amigo “Tato”

Hoje encontrei o Tato, um dos grandes amigos da minha infância. Nos conhecemos quando eu tinha 5 anos, e ele se mudou para a casa ao lado. Convivemos bastante, em especial na fase mais bonita da vida, entre a infância e a adolescência.

Lembramos de como as coisas eram mais tranquilas em nossa infância; éramos felizes, mesmo com muito pouco. O pai dele era sapateiro e o meu pai operário em uma metalúrgica, ganhavam muito pouco, mas o suficiente para não deixar faltar nada em nossas casas. Eles também eram amigos e, com frequência, saiam para pescar juntos.

Aos domingos tínhamos refrigerante no almoço, em geral, uma tubaína comprada no Bar do Sr. Aristides, que ficava ao lado de casa. Como as nossas famílias eram grandes, então não chegava a encher um copo para cada um. A sobremesa era pudim de pão, feito com o pão amanhecido ou manjar de maizena regado com groselha, que também comprávamos em doses no bar.

Lembrei de quando fui pela primeira vez ao cinema, no Cine Coliseu, que ficava no Jaçanã. Era um domingo chuvoso, por isso, minha mãe me obrigou a levar o guarda-chuva. Claro que não o trouxe de volta, e tive que me explicar com ela. Isto me fez lembrar a dona Geralda que morava no quarteirão rua abaixo, e fabricava guarda-chuvas em casa.

Recordamos de uma história hilária que aconteceu com ele, quando foi pela primeira vez na matinê, no mesmo Cine Coliseu. Entrou no cinema às 13 horas e saiu de lá, escoltado pelo lanterninha às 22 horas, isso mesmo, o moleque passou 9 horas dentro do cinema. Um filme terminava e logo começava outro, e ele não saia do cinema.

Sua família estava desesperada, porque já era noite e nada do Tato voltar para casa. Seu pai, em pânico, depois de procurá-lo em inúmeros lugares foi ao Cine Coliseu. Buscou o gerente e disse que o filho havia saído de casa ao meio-dia para ir ao cinema e não havia voltado. Explicou que já haviam procurado em todos os lugares possíveis, só restava a esperança de que o moleque pudesse estar na plateia.

Ao ver o desespero do pai do menino, o gerente interrompeu a sessão, acendeu as luzes e anunciou no sistema de som que os pais do Claudio, sim esse é o nome dele, o esperavam no saguão, pedindo para ele se identificar para um dos lanterninhas.

Finalmente, no saguão do cinema surge o Tato, ao lado do lanterninha. Seu pai, com um misto de alívio e desejo de esganá-lo, teve força apenas para dizer: vamos embora! Em casa a gente conversa.

Ao chegar em casa, além de um puxão de orelhas, ouviu um sermão de seu pai e depois outro de sua mãe. Não entendeu nada, afinal todos sabiam que ele estava na matinê, então por que a bronca? Dormiu com as orelhas quentes e só entendeu anos depois.

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