Eu não sou mais tão forte quanto antes, e não somente fisicamente. As pancadas da vida, as desilusões, o fim de alguns sonhos, os planos desfeitos ao longo dos anos não foram suficientes para minar a minha força, mas me deixou mais medroso e menos inconsequente. Por outro lado, já não sou tão tolo quanto antes.
Eu já não mergulho dez metros, não corro tão rápido como antes, não levanto 50 quilos com facilidade. Agora eu ando devagar, porque aprendi que a pressa anda na contramão do tempo. Eu percebo que meu tempo vai passando e jogo-me na submissão ao meu destino inevitável, mas procuro viver os meus dias com intensidade, pois sei que o que importa é a viagem e não o destino.
Eu já não imagino coisas como antes, eu já não aprendo como antes, não enxergo como antes, e não gozo como antes. A consciência de que definho com dignidade é meu único trunfo, e o menor sinal de fraqueza é interpretado como se a curva declinante da minha energia fosse acentuando-se a cada minuto largo.
Todavia, no brilho eterno do meu olhar, a juventude ainda pulsa. E, embora eu não mais corra como o vento, agora conheço alguns atalhos. Embora não aprenda como antes, a escola da vida me nutre de sabedoria. Embora eu não tenha a mesma força, aprendi a usar alavancas.
A minha experiencia de vida me fez mais sensível, e hoje posso perceber a singeleza de um olhar, a beleza de um sorriso, a doçura de uma palavra, o calor de um abraço. Também me tornei mais tolerante e solidário.
Talvez eu não seja nada disso, e me acomode com a minha impotência e insignificância perturbadora. Talvez eu seja, simplesmente, como um sapato velho, que ainda pode confortar algum pé descalço, apesar de não ter o brilho de um sapato novo.
Não me considero um velho; estou mais para um senhor maduro, que apesar das cicatrizes, resultado das feridas colhidas ao largo da vida, não perdeu o brilho nos olhos e a alegria de viver, saboreando com sabedoria cada segundo que a vida me oferece.